Relações das sanguessugas com o Homem e outros animais |
As sanguessugas têm relações de mutualismo obrigatório com espécies de bactérias, habitantes do seu tubo digestivo; as verdadeiras sanguessugas mantêm essa relação só com uma espécie e as predadoras com várias. Estes anelídeos têm um impacto relativamente modesto para o Ser Humano. No entanto, algumas destas espécies, em zonas onde são abundantes, podem ser particularmente nocivas causando mesmo a morte aos seus hospedeiros. As espécies podem fixar-se externamente (o usual) ou internamente, quando estes bebem água, e alimentar-se do seu sangue. O problema maior advém, não de potenciais infecções transmitidas pelas sanguessugas (tal não é vulgar), nem do facto de elas sugarem o sangue, mas, sobretudo, do efeito das substâncias que segregam – vasodilatador e anticoagulante (usualmente hirudina), que mantêm as feridas a sangrar durante muitas horas mesmo depois das sanguessugas se soltarem. Por esta sua particularidade, as sanguessugas são os anelídeos mais utilizados em medicina, particularmente a espécie Hirudo medicinalis (sanguessuga medicinal). A primeira sanguessuga foi utilizada na India por volta do ano 1000 B.C. e no séc. XIX a espécie Hirudo medicinalis era indispensável na medicina. A ideia corrente era a de que este anelídeo extraía o sangue com "humores mórbidos" (toxinas) e, consequentemente, levava o paciente à cura. Em Portugal, os "barbeiro-sangradores" eram geralmente os técnicos encarregados de aplicar sanguessugas. As barbearias eram os locais de venda de sanguessugas. O uso destes animais foi sendo abandonado, à medida que os conhecimentos em medicina avançaram mas, actualmente, as sanguessugas estão a tornar-se novamente populares pela sua utilização em cirurgia plástica e de reconstrução. O seu papel consiste em sugar o sangue tumefacto resultante da dificuldade de restabelecimento de ligações entre alguns vasos sanguíneos (veias e capilares) e facilitar a oxigenação da zona adjacente, permitindo um mais eficaz reconhecimento dos tecidos reconstruídos. São também utilizadas no tratamento de ulcerações e varizes das pernas e na redução da dor da artrite. O interesse da utilização das sanguessugas reside, não tanto no sangue que é sugado pelo animal, mas no facto de o anticoagulante e o vasodilatador que segregam manter o sangue a fluir durante praticamente 10 h após terem sido retiradas do paciente, impedindo a acumulação do sangue nos tecidos. Várias investigações têm decorrido com o objectivo de isolar as substâncias produzidas pelas sanguessugas, nomeadamente o anticoagulante, no sentido de se desenvolverem medicamentos novos para doentes cardíacos.
Existem actualmente algumas empresas (com sítios na rede) que comercializam as sanguessugas e seus produtos. As espécies mais comercializadas são Hirudinaria manillensis (Ásia), Haementeria ghilianii (Amazonas) e Hirudo medicinalis (Europa). Esta última parece estar actualmente em risco de extinção! |